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Fev

By: Carina Sieira

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A COREMA participou na concentração/manifestação de protesto contra a exploração mineira de lítio em Covas do Barroso (Boticas) no dia 18/01/2025 e, no final da jornada, tomou parte na reunião aí realizada entre os movimentos e organizações não-governamentais de ambiente. 

A propósito da nossa participação nestas iniciativas, redigimos o seguinte comunicado: 

Estamos totalmente solidários com luta da população de Covas do Barroso, que também é nossa. A exclusão do sítio Serra d’ Arga, no Alto Minho, do programa de mineração do Governo anterior não pôs um ponto final na nossa acção. A Corema continuará a bater-se para que não aconteça tão grave atentado ao ambiente, ao património cultural, às economias locais e à vida das populações das regiões que constam dos planos governamentais de mineração, como é o caso da região de Covas do Barroso. Continuaremos mobilizados contra o desastre ambiental e social que querem impor a Boticas, a Montalegre, à Guarda-Mangualde, a Almendra, a Argemela, a Barca d’ Alva e a Felgueiras. É, de facto, de um desastre ambiental que se trata quando falamos de extracção de lítio e de outros minerais. A indústria extractivista que, contrariamente, àquilo que nos querem vender, não pertence ao futuro, mas ao passado, um passado que não queremos reeditar e com o qual somos ainda hoje obrigados a conviver através dos múltiplos passivos ambientais que resultaram da exploração mineira, originando uma herança terrível de miséria humana, de poluição e contaminação do solo e dos recursos hídricos. 

Não existe uma transição energética sustentável quando ela é realizada à custa da destruição das nossas florestas (que são sumidouros de carbono), da perda de biodiversidade, quando contaminamos os recursos hídricos (cada vez mais escassos), quando comprometemos a qualidade do ar e a saúde dos residentes e desprezamos as populações e o seu espaço natural. 

Trata-se de realizar uma ponderação entre o interesse ambiental e o interesse da exploração de lítio e de outros minerais associados. Portugal detém, apenas, 3% das reservas mundiais de lítio, que é muito pouco concentrado e que, em grande parte dos locais, existe disperso e em percentagens muito reduzidas. Portugal nunca poderá competir com as extensões territoriais de países como o Chile e a Austrália. A indústria automóvel já admite que o lítio é transitório e a Comissão Europeia considera-o uma matéria-prima crítica. A análise de que a aposta no lítio é uma aposta num material que vai ser substituído num futuro nada longínquo ganha cada vez mais defensores. A exploração de lítio é um projecto que estrategicamente não é interessante, e gera um impacte muito severo e desproporcionado em relação aos ganhos. Para além de ser altamente destrutivo para o Ambiente consume muita energia. Afirmar que o lítio é essencial para a descarbonização da economia, não passa de uma falácia, assentando num modelo que em termos de sustentabilidade ambiental é um verdadeiro logro. Para além da candura e da bondade com que é apresentada, esta descarbonização anunciada esconde uma poderosa pirâmide de interesses e enganos, que ocultam os pesadíssimos estragos que decorrem a montante e a jusante do processo de extracção. No contexto de uma geografia económico-política instável como a que vivemos, será de equacionar a rápida queda em desuso de certas tecnologias (incluindo a utilização do lítio) e a frenética corrida em busca de formas de energia mais abundantes, eficazes e financeiramente mais acessíveis, como será o caso, por exemplo, do sódio.  

Estamos perante uma ameaça sem precedentes para o ambiente, o ordenamento do território, o mundo rural e a qualidade de vida das populações, ameaça esta que exige a mobilização e a união de todos: autarcas, associações de baldios, associações ambientalistas, culturais, desportivas e recreativas e de toda a população.

Estamos solidários! O Alto Minho está solidário com a luta da população de Covas do Barroso, que continua a ser também a nossa luta!  

A Direcção da COREMA